sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Memória

Você encontra a pessoa na rua e sabe que conhece, mas não sabe de onde. Enquanto conversam animadamente você faz um esforço sobrenatural para lembrar se ela trabalha na vídeo locadora, na fruteira ou é colega sua no curso de computação. A moça se despede e deixa você dois, três ou quatro dias remoendo aquela dúvida que só se resolve quando, ao entrar na farmácia, você se depara com ela e lembra de onde a conhece. Da farmácia.
Você vai no mercado e se não levar a lista de compras vai esquecer da metade das coisas que deveria comprar. Sua amiga lhe deu o novo número do celular dela e você acreditou que não precisava anotar. Achou que iria lembrar assim que chegasse em casa. Engano seu. A única coisa que conseguiu lembrar é que o tal número começava com os dígitos 99. Não adianta. Se não anotar ( e tem que ser na hora) não vai lembrar. O nome do remédio que o médico receitou para enxaqueca e que estava escrito na receita que você esqueceu onde deixou. Não arrisque. O próximo horário do dentista ou da massagem se não estiverem na sua agenda...já era.
Outra: Você encontra aquela pessoa que conheceu no ônibus. Ela te abraça, te beija e lá se vai meia hora de assunto. A cada pergunta da moça você tenta lembrar o nome dela - Alice, Berenice ou Cleonice. Mas nenhum deles combina com ela. Mais uma troca de gentilezas e você continua naquela agonia – Deisi, Eleonora, Francisca. Também não. E lá está você puxando pela memória. E nada. O nome dela ta aqui ó, na ponta da língua. E nada. Gabriela, Helena, Ingrid. Ainda não. E aquela pessoa continua ali na sua frente parecendo tão íntima. Joana, Kátia, Luana. Não adianta. E a moça não desiste. Parece que ela faz de propósito. Parece que desconfia da sua aflição. Ela quer saber da sua família, do seu trabalho e você já nem presta mais atenção. Márcia, Nádia, Olívia. Como você ousa esquecer o nome dela? Já deu pra notar que ela não esqueceu do seu. A pressão aumenta e o suor já está surgindo na sua testa. Paula, Quênia, Raquel. Não é. Ela pergunta se você ainda mora no mesmo lugar e você faz um sinal positivo com a cabeça. Resposta automática. Samanta, Tatiana, Úrsula. O desespero continua. Vitória, Zila. Não tem jeito mesmo.
Pouco antes de ter um colapso nervoso você explode e acaba fazendo aquela pergunta que deveria ter sido feita lá no início da conversa e evitaria todo este mal estar – “ Me desculpe, mas como é mesmo o seu nome?” E ela responde que já havia notado que você não lembrara. Era Wilma. Tão simples. Wilma.
Cadê a memória que estava aqui? Há pouco tempo a gente lembrava de tudo. E de todos. E agora parece que tudo vai ficando cada vez mais distante. A propósito, estou tentando lembrar do tema de minha última crônica...

Um comentário:

Unknown disse...

Lendo esse texto aqui...eu acho que conheço você de algum lugar...Deixa ver...Huuummmm....Vou me lembrar....Ai meu Deus....